Christo Brand conheceu Nelson Mandela quando, em 1978, foi admitido como guarda prisional na prisão da Ilha Robben, ao largo da Cidade do Cabo, onde Mandela estava preso. Com uma enorme diferença de idades (19 e 60 anos quando se conhecerem), um guarda, outro prisioneiro, um branco e outro negro numa sociedade profundamente marcada pelo apartheid, tinham tudo para que a distância entre eles fosse brutal.
A convivência diária e o crescente conhecimento mútuo vieram, porém, a torná-los aliados e amigos, e a sua ligação perdurou muito para além das grades de Robben Island: permaneceram juntos quando Mandela foi transferido para a prisão de Pollsmoor e, depois de aquele ter sido finalmente libertado, as suas vidas (e das respetivas famílias) continuaram a cruzar-se.
Christo Brand contou a história desta relação extraordinária no seu livro “Mandela – Meu Prisioneiro, Meu Amigo”.
Durante a nossa viagem à Africa do Sul, no verão de 2018, tivemos o enorme privilégio de conhecer Christo Brand, que nos veio visitar e jantar connosco. Contou-nos de viva voz muitos dos episódios que viveu com Nelson Mandela, ajudou-nos a entender melhor a sua personalidade determinada e resiliente e o seu caráter profundamente humano, foi um comovente testemunho do seu legado.
Em particular, fez questão de nos recordar a importância que Mandela sempre atribuiu à educação, o empenho férreo em continuar a estudar durante os mais de 27 anos em que esteve preso, o incentivo a Christo Brand para que melhorasse a sua instrução, a ajuda que deu para que um dos seus filhos conseguisse uma bolsa de estudo. “Nunca se esqueçam”, disse-nos Brand, “desta importantíssima lição de Nelson Mandela: nunca parem de estudar, de aprender, de se tornarem melhores, pois só assim conseguirão ajudar a construir um mundo melhor.”
Com Christo Brand aprendemos, também, que as diferenças entre as pessoas não têm que gerar ódio ou indiferença, podendo, pelo contrário, estimular o respeito, a cooperação e a amizade. Basta, para isso, que conseguimos compreender a profunda dimensão humana do que nos une e a extraordinária riqueza da nossa diversidade.
A visita de Christo Brand foi fantástica e muito divertida: ele adorou ver o seu livro traduzido para Português, ficou espantadíssimo quando lhe explicámos que estava incluído no nosso Plano Nacional de Leitura e vibrou com cada Polaroid que tirámos com ele. Gostou tanto de nós que se foi despedir ao aeroporto quando partimos, ofereceu-nos vídeos sobre Nelson Mandela e Robben Island e escreveu-nos uma carta que fechou com chave de ouro esta incrível experiência!
Catarina Anastácio